segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

para a mariana, mariana que nem eu. que sabe todos os segredos das palavras e como junta-las pra contar as historias mais lindas desse mundo. e que tem toda a generosidade desse mundo dentro dela, o suficiente pra achar bonito o que eu escrevo. aqui vai o poema de drummond que eu mais gosto, aquele que eu leio com o coracao apertado, como se fosse eu mesma quem nunca mais houvesse escrito.


CARTA
Carlos Drummond de Andrade


Há muito tempo, sim, não te escrevo.

Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci. Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias

( tão leves ) que fazias no meu rosto:

são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu caminho, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias:
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.

3 comentários:

  1. meu amor,

    que bom que tu postou alguma coisa pra mim. tenho estado naqueles nossos breves e morosos dias de banzo. rita me diz ao telefone meio desconfiada: "parece que tá com banzo...". a gente nega. sempre há a possibilidade do negar. passa. nossa certeza, nós duas que somos dolado bom da força, sabemos disso, sempre. que nada dessas melancolias torpes que nos acometem podem nos visitar por um momento longo. às vezes elas de abancam e foi você que me ensinou que devemos recebê-las como quasiquer visitar. com educação, gentileza e coração aberto. eu as recebo. todo e qualquer sentimento é necessário ser vivido (ainda que não seja dividido porque a gente não mora assim vizinho e tem coisas muitas que a telefonia não abarca). também foi você que me ensinou isso. jajá colo meu poema favorito do carlos.
    agora te deixo um furacão do amor que eu sinto por ti.

    homônima.

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  2. Confidência do Itabirano

    Alguns anos vivi em Itabira.
    Principalmente nasci em Itabira.
    Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
    Noventa por cento de ferro nas calçadas.
    Oitenta por cento de ferro nas almas.
    E esse alheamento do que na vida é porosidade e
    comunicação.

    A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
    vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem
    horizontes.
    E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
    é doce herança itabirana.

    De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
    esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
    este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
    este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
    este orgulho, esta cabeça baixa...

    Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
    Hoje sou funcionário público.
    Itabira é apenas uma fotografia na parede.
    Mas como dói!

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