sexta-feira, 24 de julho de 2009

pra mila

ela espalha pelo mundo a beleza. que vai alem da beleza fisica, dos olhos castanhos, da boca carnuda, da altura. vem atraves dos olhos a beleza dela, porque vem de dentro, eh inerente, intrinseca.

ela espalha pelo mundo a docura, quando abraca apertado e se entrega ao abraco, quando pousa a mao na gente ao sentar do lado pr'uma conversa, quando escuta atentamente as historias de sempre. mesmo quando ela perde a paciencia e se irrita e desfere palavras cortantes, ainda assim, tao humana, ela eh doce.

ela espalha pelo mundo a generosidade, de quem de fato dah valor ao outro, que entende, que apoia, que se faz sempre presente, que eh capaz de pegar um aviao soh mesmo pra ficar perto uns poucos dias.

amanha, quando receber os parabens ao telefone, ela vai continuar espalhando pelo mundo esse monte de coisa boa que soh ela sabe espalhar. desde quando a gente dividia um quarto na casa da rua das dalias e a nossa vida comecava a se misturar. desde sempre, o tempo todo.

sem ela, nao ha nada, nao ha sentido, nao ha rumo, nao tem porque. sem ela nao tenho um pedaco, sem ela nao sei viver.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

ii. anatomia de uma decisao

o universo parece mesmo conspirar, e eu tenho certeza absoluta de que nao ha nada de coincidencia nisso.
minha voh foi internada, depois de sentir dores no peito. mamae, como de costume, esperava a historia se resolver pra soh entao me contar. o problema eh que depois ela esquece, como quando a tia zenaide morreu e ela deixou pra me contar depois e acabou esquecendo. vim saber mais de um mes depois, assim por acaso, no meio de uma outra historia, na qual a tia zenaide era soh uma coadjuvante. e o susto foi grande, mais do precisava ser. minha sorte eh que tenho a mila e o dani, que nao me escondem. o universo conspira junto com minha agonia por noticias, eh enfarto? nao eh? o que foi, afinal de contas?
voltou a chover ontem, nesse julho que nao parece verao. mais da metade do curto verao da nova inglaterra jah se foi, quase todo num tema soh: chuva e temperatura abaixo da media. nem o 4 de julho, tradicional dia de sol, de cook-outs, de gente brincando ao ar livre e fogos de artificio escapou esse ano. o universo conspira junto com a chuva.
meus alunos nesse semestre de verao sao letargicos, apaticos. me pego as vezes no meio da aula olhando pr'aquele bando de jovens, todos bem nutridos, mas tao sem energia pra vida. mesmo que voce nao goste da materia, mesmo que voce soh esteja fazendo a disciplina pra cumprir tabela, voce estah ali, obrigatoriamente, um certo numero de horas por semana - nao seria mais inteligente aproveitar o tempo ali? nem que seja pra nao ficar entediado horas a fio durante todo o semestre? o universo conspira junto com meus alunos.
em compensacao, o telefone aqui de casa toca. os emails chegam. e, mesmo que tao longe, estou perto.

terça-feira, 21 de julho de 2009

caminho

algumas coisas nao merecem a energia que a gente despende pra resolve-las. eh melhor mesmo soh deixa-las ser, pro tempo mostrar qual eh mesmo o caminho a ser seguido. lutar, espernear, fazer muito rebulico as vezes soh drena energia preciosa pro futuro, quando a hora da acao de verdade chegar.
enquanto espero a hora de usar minha energia, vou aproveitando os escassos dias de sol no verao da nova inglaterra. o sol que veio pra secar a lama das trilhas do winnekeni park, onde vou dar minhas corridas, onde as pessoas se cumprimentam, onde o cara que, com certeza, seria o melhor amigo do forest gump me pergunta todo dia que musica estou ouvindo e cuja cadelinha border collie corre comigo por alguns passos. mas a magica mesmo acontece na hora em que, sozinha nas trilhas, permito que elas me levem pra onde vai meu pensamento. naquelas horas, somos soh eu, a musica e o caminho.
ao contrario dos ultimos dias, que foram de sol e calor, hoje amanheceu chovendo. chuvinha fina, dessas que vem pra lavar o mundo. e tambem ao contrario do que vinha acontecendo, nao esquentei o juizo. fiquei em casa pra trabalhar, fiz um almoco bem gostoso e, quando acabar o que tenho pra fazer, vou continuar lendo meu livro, sentada no sofa da sala, perto das flores amarelas que fazem minha primaver particular, de pijama, que eu gosto mesmo eh de ficar de pijama em casa. em minha casa hoje, seremos eu, meus discos, meus livros, meu crochet e nada mais.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

entre as estrelas e o chao

o melhor momento da semana foi ontem, na horinha mesma em que a moca da agencia me ligou pra avisar que minha passagem pro brasil no fim do ano estah confirmada. vou ficar quase um mes inteirinho em fortaleza.
o segundo melhor foi hoje, apesar da quase ausencia do sol, fui correr no parque. ainda nao tinha conseguido ir correr no parque esse verao. muita chuva deixa as trilhas muito enlameadas e nao dah pra correr. ainda tinha um pouco de lama, mas dava pra passar. foi bom.

"...vao descobrir que entre as estrelas e o chao existe o mar..." - Marcelo Camelo

domingo, 12 de julho de 2009

ela disse: pai, queria morar em new hampshire, pra estar sempre pertinho da tia mari. e o pai: quando a gente tah com saudade e tah longe, a gente pega o telefone e liga pra pessoa e aih a saudade passa. e foi assim que, ontem no fim da tarde, toca o telefone aqui de casa e eu ouvi o oi, tia mari que sempre faz tudo a minha volta ficar bom. quando penso que ela mal tinha dois anos quando saiu de perto, que depois que eles se mudaram a gente soh se ve nas ferias e que, ainda assim, o elo eh tao forte, entendo que sabemos mesmo muito pouco sobre o poder do amor, que a gente vive, assim sem mais nem menos, a subestimar.
nao sei porque ainda me surpreendo com o poder do amor, se eh ele que me guia, me sustenta e socorre quando penso que nao tem sentido, que nao dah pra viver assim, que estou soh no mundo. ele vem em formas variadas, por meio de emails, telefonemas, posts, comentarios, telepatia. em muitos casos, ele vem junto com o sangue, a genetica e sua forca a nos fazer querer bem aqueles que tem uma porcentagem, por pequena que seja, dos nossos genes. e em outras, a me mostrar que nem tudo na vida eh ciencia nem requer analise estatistica, ele vem sem sangue mesmo, sem nenhum gene em comum, mas vem e eh isso que importa.
ainda vou me sentir soh mais vezes. ainda vou pensar por alguns momentos que nada faz sentido, ainda vou sofrer com dias frios e nublados no julho que deveria ser quente e ensolarado. mas sei que alguma mao vai se estender na minha direcao, alguem vai me mandar um email, alguem vai dizer que tem saudade e alguem vai ficar genuinamente feliz por ter sido acordado no domingo de manha e conversar mais do que deveria e chegar atrasado no almoco da familia.
a voces todos, que me estenderam a mao, minha gratidao sempre. voces fazem tudo ter sentido. a agua que passa em baixo da ponte vai, aos poucos, mudando de composicao, de textura, de cor.

ps: sexta e sabado, fez sol. e nao foi coincidencia. aproveito e aviso aos navegantes: assim com a reka, to riscando a palavra coincidencia do meu dicionario.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

fragmentado

a agua que passa embaixo da ponte eh sempre a mesma, o seu eterno serpentear por entre as pedras, a cor amarelada, o ferro dissolvido das pedras em que tanto bate a agua, que passa. como tudo na vida: passa. oxala essa agua mude de cor, oxala outros minerais aparecam, modifiquem-se a composicao, a textura, a cor e tudo mais. assim, talvez o ar de quem passa pela ponte e inspira o vapor que o calor traz para atmosfera se renove e tudo volte, mais uma vez, a fazer sentido.

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dizem por aih, e eu comeco a crer que eh de fato verdade: o universo conspira. ainda nao consegui perceber se contra ou ao meu favor, mas, sim, o universo conspira. a nova inglaterra estah tendo em 2009, um dos veroes mais atipicos. cheguei aqui, de volta do brasil, por volta do dia 10 de junho e ateh o dia 30, so haviamos tido quatro dias de sol. julho comecou e jah quase um terco completo, soh nos deus mais dois dias de sol. chuva eh bom, ruim eh o escuro constante.

domingo, 5 de julho de 2009

i. anatomia de uma decisao

sinto-me soh, hoje, quando todos que estao fisicamente ao meu redor estao ocupados com algo que nao me diz respeito. pergunto a mim mesma: quantas vezes isso jah aconteceu e nao me incomodou? hoje, incomoda. incomodarah no futuro ou vai passar? se alguem aih souber a resposta, me avisa.
fazem-me companhia, nesse domingo pos-4dejulho, o crochet e dois livros: um que se passa na irlanda, uma linda historia sobre as vivencias de um medico em comeco de carreira indo trabalhar como clinico geral numa vilazinha perto de belfast; e outro, presente da rita no ultimo dois de junho. alem do dani que, como sempre, me liga, sem nem saber que eu estou soh.
no livro que a rita me deu, carlos drummond de andrade diz:

Noticias

Entre mim e os mortos ha o mar
e os telegramas.
Ha anos que nenhum navio parte
nem chega. Mas sempre os telegramas
frios, duros, sem conforto.

Na praia, e sem poder sair.
Volto, os telegramas vem comigo.
Nao se calam, a casa eh pequena
pra um homem e tantas noticias.

Vejo-te no escuro, cidade enigmatica.
Chamas com urgencia, estou paralisado.
De ti pra mim, apelos,
de mim pra ti, silencio.
Mas no escuro nos visitamos.

Escuto voces todos, irmaos sombrios.
No pao, no couro, na superficie
macia das coisas sem raiva,
sinto vozes amigas, recados
furtivos, mensagens em codigo.

Os telegramas vieram no vento.
Quanto sertao, quanta renuncia atravessaram!
Todo homem sozinho devia fazer uma canoa
e remar pra onde os telegramas estao chamando.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

tempo, tempo, tempo, tempo

"tempo, tempo, mano velho
falta um tanto ainda, eu sei, pra voce correr macio..."

hoje, pensando na vida, buscando inspiracao pro dia, me dei conta de que usei muito as expressao "o tempo eh um senhor poderoso" nos ultimos dias. tenho brincado com o tempo, jogado com ele, porque ele eh, de fato, um senhor muito poderoso. uma das grandes descobertas da minha vida foi aprender a utilizar o tempo, que cura muitos males, que dah a milhagem pra que nos acostumemos com o inimaginavel, o mais supreendente, o mais doloroso, a maior das rupturas, o mais drastico dos desvios.

demorei muito pra aprender a lidar com o tempo. e sofri muito com a ansiedade da adolescencia, com o arrastar do tempo que nao passa ou com a pressa do tempo que passa rapido demais. hoje nao, as licoes aprendidas me fizeram ter a calma necessaria pra entender que posso, sim, brincar com o tempo, e mais que deixa-lo me levar, eu posso jogar com ele, leva-lo comigo e utilizar seu poder ao favor do meu bem-estar. hoje, mais que me angustiar, o tempo me inspira. e foi o tempo que me ajudou nesses ultimos dias em que me isolei, pra deixar o tempo, sozinho, cumprir o seu papel. saio desses dias com a cabeca mais tranquila, o espirito em paz.

os meus disseram: pense, o que voce decidir, estah decidido - estamos aqui pra apoia-la. eh muito confortante ouvir isso e saber que nada nas minhas escolhas, por mais duras que elas sejam, modificarah o que construimos. eu sei disso: aqui ou lah, vou continuar fazendo parte. mas essa liberdade de escolhas me faz ficar ainda com mais vontade de ir. talvez, se eles fizessem pressao, se me pegassem no peh, eu soh de pirraca mudasse o rumo da prosa. nos nao somos uma familia tipica em varios sentidos. nos somos extremamente proximos e nos amamos muito, mas sabemos preservar o espaco que eh de cada um. por isso, entre tantas outras coisas, eh tao bom fazer parte.