quinta-feira, 15 de setembro de 2011

a resposta que nunca vou dar

pois é. completo hoje, dia 15 de setembro de 2011, 14 meses de retorno ao brasil. muito, muito bom estar perto da família, estabelecer rotinas de convivência, fazer parte, ajudar, ser ajudada. muito bom o abraço sem pressa, o beijo repetido, os gestos que, por serem possíveis de forma regular, vão se internalizando, são realizados quase tão naturalmente quanto respirar. não vou dizer que fortaleza seja uma cidade ruim, ando evitando juízos de valor e dizer que fortaleza é ruim e atribuir um valor que eu não quero a essa cidade que é minha, apesar de me fazer sentir infinitamente estrangeira. fortaleza, entretanto, não tem sido uma experiência prazeirosa para mim. um ano e dois meses depois, minha relação com a cidade ainda é marcada por uma certa irritação, pela sensação de que eu não compreendo a cidade. e, sobretudo, pela sensação de uma grande ausência de pertença. não me sinto parte desse lugar, como já me senti parte de outros lugares onde morei. antes, pertenço aos meus e isso, esse sentimento de pertencer a eles subverte a geografia e é possível onde quer que estejamos, qualquer lugar que permita o encontro.
no começo, logo que cheguei, apesar de todas as dificuldades, eu sentia que valia a pena estar aqui, que chegaria o dia em que tudo voltaria ao eixo. eu teria uma trabalho que, de qualquer forma que fosse, me satisfizesse, teria uma história com a cidade, amigos, e assim um lugar que me coubesse por estas bandas. explorei algumas possibilidades, fiz o que eu pude. mas não, não passei mesmo por cima dos meus princípios e valores, algo muito importante pra mim. não fiz nada que eu achasse desonesto ou que me constrangesse. sei que não fiz o suficiente pra me estabelecer por aqui - sei disso melhor que ninguém. mas sei também que fiz o que pude e isso me basta, mesmo que não baste aos outros. ao longo desses 14 meses, fui me cansando, minha confiança foi murchando, minha energia foi se exaurindo e, à medida em que mais portas foram se fechando, fui vendo minha gama de possibilidades reduzir-se quase a zero.
tenho sido, mesmo que veladamente, acusada de não ter tentado o suficiente. de não ter feito absolutamente tudo o que podia ser feito. sei que quem diz isso sente, assim como eu, uma certa frustração. sei que quem diz isso o faz por amor. mas só eu sei onde o calo me dói, qualquer que seja o acontecimento em minha vida, sou eu que arco com as consequências. só eu sei como eu durmo e acordo, só eu sei o gosto do que saboreei por aqui. só eu. só eu sei o quanto me custaria usar de determinados recursos pra fazer as coisas aqui caminharem de maneira diferente. então, só eu posso decidir o que vou fazer. ou não, como diria o caetano.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

setembro

para mim e para os meus, setembro reinaugura saudades. elas completam anos, renovam ciclos e, num eterno modificar-se, perduram em cada um de nós. em uns, é maior, mais intensa, mais latejante. em outros, é menor, menos diária. mas é igualmente saudade em todos nós, porque sabemos que nunca mais seremos nós completos.
lembrei-em hoje, num banho de mar de homenagem à saudade, que mia couto um dia escreveu:
"Cruzo o rio, é já quase noite. Vejo este poente como o desbotar do último sol. A voz antiga do Avô parece dizer-me: depois deste poente não haverá mais dia. E o gesto gasto de Mariano aponta o horizonte: ali onde se afunda o astro é o mpela djambo, o umbigo celeste. A cicatriz tão londe de uma ferida tão dentro: a ausente permanência de quem morreu. No Avô Mariano confirmo: morto amado nunca mais pára de morrer."
Mia Couto em Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra