domingo, 26 de abril de 2009

segundo chico buarque: a saudade doi como um barco, que aos poucos descreve um arco, e evita atracar no cais. peguei emprestadas as palavras do chico, pra dizer que estou com saudade, que penso nos meus todos os dias, que queria mesmo era estar lah e nao aqui. e que soh mesmo o medo de jogar tudo pro alto e me arrepender muito depois me fazem permanecer, continuar, seguir. to chegando em maio, tomara que seja a tempo de aliviar alguma dor.

nao to triste. estou preocupada, eh diferente. estou levando minha vida aqui, por dias alheia a primavera que desenrola rapido bem na minha janela. as flores todas, mais as folhas que brotam e colorem de verde em varios tons o mundo antes cinza e marrom, fazem meus dias mais felizes. dirigindo, andando, passando, por uns poucos segundos quase esqueco que queria estar lah e nao aqui. seria de lascar se, alem de tudo, estivesse frio. nesse ponto, o universo conspirou ao meu favor: pelo menos, eh primavera!

nao ha de ser nada! reafirmo pra mim mesma em pensamento mil vezes ao dia. rezem, mandem energia boa, facam pensamento positivo. eu tambem rezo, mando as energias boas que me restam, faco pensamento positivo.

domingo, 19 de abril de 2009

passagem

do tempo: faz quase um ano, nessa mesma epoca, eu estava a me preparar pra ir a portugal, passar uns dias com o cah e a aninha. e depois pra espanha. mamae hoje me mandou um email com fotos da espanha - ela sabe que a espanha me toca no fundo. na mensagem, ela dizia: a espanha eh infinita! eh mesmo, mae, a espanha eh infinita...
do espaco: eu faria qualquer coisa pra ir pra salvador nos proximos dias. qualquer mesmo. jah mexi aqui e ali, investiguei umas possibilidades. sei que ainda nao eh o momento de tomar uma atitude assim as pressas, com o juizo quente. preciso ter calma e esperar o desenrolar dos fatos. mas se o bicho pegar, aviso aos navegantes: nada me segura no hemisferio norte. ah, seu eu estivesse mais perto...
das estacoes: o mundo ao meu redor estah cheio de daffodils amarelos que me fazem sentir menos peso nos ombros. tao leves e belos os daffodils! tem brotos verdes, vermelhos, arroxeados nas arvores, nos arbustos, as gramas estao verdinhas. a primavera explode de uma hora pra outra.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

doze

nos jah fomos doze. jah brincamos todos juntos, jah brincamos em fracoes, jah brincamos uns contra os outros. jah brigamos por quinze minutos, umas poucas horas, nunca mais que isso. jah passamos ferias na serra, sob as regras rigidas dele, sob a luz e o comando dela, jogando king de noite na mesa redonda da sala. jah tivemos que fazer silencio depois do almoco pra que eles dormissem. jah fugimos pra tomar banho de piscina quando ainda tinha muita comida na barriga. jah encontramos urucum na mata, nos pintamos de indio, sujamos os tenis novos comprados pro ano letivo, levamos bronca. jah arrancamos um pedaco da parede, quase todos na rede, a balancar, balancar, balancar, numa tarde sem fim de aventuras. jah nos perdemos pela vida, nos perdemos uns dos outros. fomos morar em paises do mundo, estivemos longe, passamos meses sem contato. soh havia sempre a certeza: um dia nos reencontrariamos.
ainda somos doze. apesar dos materialistas que nos negam a feh, que nao creem eles mesmos no que estah por vir. nao, nao podemos nos reunir em doze, nosso todo sempre falta um pedaco. nao tiramos mais a foto de todos - nao dah. ainda nos reunimos, ainda brincamos todos juntos, brincamos em fracoes. temos adicoes, nos agregamos. nao passamos ferias na serra em grupos grandes - nao cabemos mais. nos encontramos todos na fazenda, na joatama, sob as regras nao tao rigidas do filho deles, que, de noite, toca violao - cantamos todos - que bebe cachaca com todo mundo, que conta historias, partilha. de dia, nos reunimos ao redor da geracao que nos substituirah um dia: reeditamos as brincadeiras e, como eles fizeram um dia, preparamos o terreno pra que sejam amigos, que se queiram bem como nos, os doze, nos queremos. elas, tambem filhas deles, cuidam de tudo e todos, supervisionam. saimos daqueles dias na fazenda todos mais fortes e partimos, a nos espalhar pelo mundo. no fim, soh ha sempre uma certeza: um dia nos reecontraremos.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

massachusetts

nao. nao gosto quando a minha dignidade, aquela que guia minha vida, determina meus principios e me faz ser quem sou, eh posta em duvida. nao gosto, nao admito que alguem, por qualquer motivo que seja, qualquer mesmo, qualquer umzinho, questione algo que, pra mim, eh tao importante quanto o ar que eu respiro, que me faz escolher caminhos mais longos e tortuosos, as vezes, quando era tao mais tentador e facil escolher o caminho mais curto. ha que se ter cuidado, eu sei: conviccao demais, principios rigidos em excesso, levam a arrogancia. tento todo dia encontrar o meio do caminho, manter minha dignidade, levar minha vida guiada por meus principios e ter alguma flexibilidade. soh isso.
minha reacao fica desproporcional, as vezes. sou humana, viro bicho, ajo por institos, nao por razoes. mesmo que outros e eu mesma cheguemos a conclusao de que nao havia necessidade de tanto, nao se pode mudar o que jah estah feito, pronto e acabado. serve, no minimo, pra explicitar com clareza indiscutivel minha postura.

tenho a sorte de trabalhar numa instituicao feita por pessoas sensiveis. ali, mais que uma equipe de trabalho, somos um grupo de pessoas que querem, de alguma forma, o bem das outras. mesmo que nao exista amizade de fato, nos relacionamos como pessoas que trabalham no mesmo lugar. nao como colegas de trabalho pura e simplesmente. ha, quase sempre, muito respeito. de muitos deles, me tornei de fato amiga. e ouvir uma palavra de amizade e apoio quando um maremoto carrega tudo em torno vale mais que o salario.

hoje, enquanto retirava a placa de new hampshire do meu carro, e trocava pela placa nova, do estado de massachusetts, uma historia antiga me veio a cabeca. eu sempre achei a palavra "massachusetts" linda. adorava a sonoridade e, nas minhas brincadeiras de crianca, eu morava em massachusetts. assim, durante a brincadeira, podia dizer varias vezes massachusetts, massachusetts, massachusetts... o tempo passou, eu esqueci essa historia, me mudei varias vezes. vim parar em massachusetts, pra hoje, trocando a placa do meu carro, recuperar a historinha das profundezas da minha memoria. e a toda hora eu articulo massachusetts, massachusetts, massachusetts...

durante minha falta de criatividade e ausencia, meu blog ficou mais chique. recebo agora comentarios em espanhol. esse blog estah, oficialmente, poliglota!

terça-feira, 7 de abril de 2009

trabalho demais, pouco tempo de ocio sao inimigos da criatividade pra escrever. em tempos de muita necessidade de criar no trabalho, canalizo qualquer potencial de criar pra dar conta do recado. e sumo daqui. volto quando eu parar.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

vida

nao ha nada que ensine mais sobre a vida que conviver com gente. pode ser dificil, exigir paciencia, tolerancia, e milhares de outras qualidade que eu nao tenho. mas, ainda assim, eh gratificante conviver com gente. soh mesmo saindo do meu mundinho onde (quase) tudo acontece conforme o programado, pra entender e aprender sobre a vida. ontem, fui falar com uma aluna minha. muito inteligente, com sacadas brilhantes, ela andou faltando mais aulas que deveria, nao fez varios dos trabalhos. e ouvi ela criar algumas desculpas ateh o momento em que, baixando a guarda, me contou que estah sem teto, que estah vivendo no carro. ali, na hora, na vontade de ajudar, falei dos servicos disponiveis, quem ela deve procurar, o que ela deve fazer. tem shelters na regiao, o college tem um servico de assistencia social, procure eles, eles podem te ajudar; mas nao tive tempo de absorver e refletir sobre a situacao. e fiquei um tempo depois, em casa, com ela na minha cabeca, tentanto me colocar no lugar de alguem que vai dormir e acordar no carro. toma banho? come onde? como serah comer junk food na rua todo dia? ve tv? relaxa? qualquer coisa, qualquer dificuldade que eu ja tenha enfrentado nessa minha vida parece nada perto de algo assim. assim de subito, minha vida em que tudo dah certo, em que ha constancia e consistencia, ganhou uma nova perspectiva.
muitos terao piedade. que pena, pobre coitada! eu, nao. nao quero ter piedade. quero ter forca, quero pode ajudar, fazer algo mais que somente indicar. quero que ela sinta que ha um caminho, que ela pode dar rumos diferentes a vida. quero ser competente e sensivel o suficiente pra contribuir pra que ela tenha auto-estima, auto-confianca e lute, com gana e garra, pra melhorar e mudar o rumo de sua propria vida. quando eu rezar mais tarde, eh essa luz que vou pedir.