quarta-feira, 14 de novembro de 2012

é muito fácil cair na armadilha da amargura, do cinismo, da descrença total, na certeza de que nada, absolutamente nada nesse mundo vale a pena. é muito fácil se deixar levar pela falta de rumo, de saída, de soluções de curto prazo que resolvam, num piscar de olhos, o que quer que seja que te incomoda na vida. é muito fácil fechar os olhos e se deixar prostrar, fazer planos de não levantar nunca mais, negar tudo o que já aconteceu, esquecer que, um dia, você já foi feliz, crente, esperançosa, otimista, combativa. esses são, sem dúvida nenhuma, os caminhos mais fáceis.
escolho os caminhos mais difíceis, embora saiba que me tomarão mais tempo, que a estrada vai ser mais longa. que eu ainda vou cair algumas vezes para, em seguida, buscar sabe lá deus onde forças para levantar ainda aquela vez. não tenho ilusões e sei bem direitinho que não vai ser fácil.
vislumbro, bem lá no final, um momento novo e diferente. não sei ainda quando ele chega, como ele vem, nem como se caracterizará. mas volto aqui pra contar.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

sobre a utopia do controle

nem bem sei mais porque eu ainda insisto, mesmo que inconscientemente, em ter, manter e conseguir controle sobre tudo o que acontece na minha vida. vira e mexe, mais frequentemente do que eu gostaria, a vida me mostra que não adianta muito planejar, que não adianta muito racionalizar, que não adianta ir com cautela, que o que tem que ser tem muita força, como me disse uma vez meu avô. quando em vez, a vida vem e me põe numa direção diametralmente oposta àquela que eu estava apontando.
2011 não foi - definitivamente - um ano fácil. me arrastei pelos primeiros meses, tive ilusões de melhora, acreditei que as coisas iam funcionar e, sempre, elas voltavam pra estaca zero, pro ponto morto. enquanto eu me agarrei a qualquer esperança que aparecesse, os dias de 2011 foram passando em câmera lenta, que é como a minha memória registra todo e qualquer tempo difícil que eu já tenha vivido: película de cinema, um slow motion em preto e branco.
acontece que eu sou do time da adélia prado: sou mulher, sou desdobrável, posso com cantigas tristes, minha tristeza não tem pedigree, enquanto minha vontade de alegria tem raiz no meu mil avô. e uma dia, como era pra acontecer, acordei sem querer mais ser feliz e decidi - volto a remar pro norte em breve. fiz planos, escolhi pontos geográficos, mandei cartas, e esperei o chamado. que veio, sim, mas chegou atrasado. chegou uma semana depois que a vida me tirou, pela milésima vez, do controle. chegou depois que eu, sem perceber, virei as costas e saí caminhando na direção contrária.
eu tive medo, é claro. pensei em desistir antes mesmo de começar. pensei em tudo de difícil que eu vivi aqui nesses últimos meses e na possibilidade de ficar por aqui e ter que conviver com algumas dessas coisas todas de novo. mas consegui vencer a inércia, a razão pulei de cabeça nesse precipício. em vez de cair, venho flutuando desde então: estou feliz de novo. integralmente.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

sim, recomecei a inventar projetos, sonhos, estórias que ainda não conseguiram sair da minha cabeça. em breve: tomara - por aqui.

domingo, 13 de novembro de 2011

fazia muito já que eu não tinha um sábado que se pudesse chamar sábado, uma sexta-feira decente o suficiente pra ser preenchida por algo a mais que o alívio do dia em que acaba o trabalho e começa o descanso. faz tempo que tenho todo o tempo do mundo pra descansar e quase nenhum pra me cansar com coisas mundanas, carnais, com pecados capitais de todos os tipos.
fazia muito que eu não procurava, feliz, um momento em que pudesse ficar só pra fazer coisas de mulherzinha ouvindo belchior e fagner, de touca na cabeça, o cabelo cheio de creme, uma máscara de pepino no rosto. faz muito que eu não ficava tranquila em dizer não pra uma das minhas crianças, que queria passar o fim-de-semana prolongado comigo.
tem sido bom não poder estar presente, tenho curtido cada momento de indisponibilidade que me cai no colo. e não, não vai ser assim o tempo todo, porque à medida em que a vida caminha, também as coisas, os sentimentos, as histórias se encaminham pr'um lugar de mais equilíbrio, de mais tranquilidade. por enquanto, todavia, me apetecem muito a pressa, a sexta-feira concorrida, as ligações não atendidas no celular, os emails a responder.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

a resposta que nunca vou dar

pois é. completo hoje, dia 15 de setembro de 2011, 14 meses de retorno ao brasil. muito, muito bom estar perto da família, estabelecer rotinas de convivência, fazer parte, ajudar, ser ajudada. muito bom o abraço sem pressa, o beijo repetido, os gestos que, por serem possíveis de forma regular, vão se internalizando, são realizados quase tão naturalmente quanto respirar. não vou dizer que fortaleza seja uma cidade ruim, ando evitando juízos de valor e dizer que fortaleza é ruim e atribuir um valor que eu não quero a essa cidade que é minha, apesar de me fazer sentir infinitamente estrangeira. fortaleza, entretanto, não tem sido uma experiência prazeirosa para mim. um ano e dois meses depois, minha relação com a cidade ainda é marcada por uma certa irritação, pela sensação de que eu não compreendo a cidade. e, sobretudo, pela sensação de uma grande ausência de pertença. não me sinto parte desse lugar, como já me senti parte de outros lugares onde morei. antes, pertenço aos meus e isso, esse sentimento de pertencer a eles subverte a geografia e é possível onde quer que estejamos, qualquer lugar que permita o encontro.
no começo, logo que cheguei, apesar de todas as dificuldades, eu sentia que valia a pena estar aqui, que chegaria o dia em que tudo voltaria ao eixo. eu teria uma trabalho que, de qualquer forma que fosse, me satisfizesse, teria uma história com a cidade, amigos, e assim um lugar que me coubesse por estas bandas. explorei algumas possibilidades, fiz o que eu pude. mas não, não passei mesmo por cima dos meus princípios e valores, algo muito importante pra mim. não fiz nada que eu achasse desonesto ou que me constrangesse. sei que não fiz o suficiente pra me estabelecer por aqui - sei disso melhor que ninguém. mas sei também que fiz o que pude e isso me basta, mesmo que não baste aos outros. ao longo desses 14 meses, fui me cansando, minha confiança foi murchando, minha energia foi se exaurindo e, à medida em que mais portas foram se fechando, fui vendo minha gama de possibilidades reduzir-se quase a zero.
tenho sido, mesmo que veladamente, acusada de não ter tentado o suficiente. de não ter feito absolutamente tudo o que podia ser feito. sei que quem diz isso sente, assim como eu, uma certa frustração. sei que quem diz isso o faz por amor. mas só eu sei onde o calo me dói, qualquer que seja o acontecimento em minha vida, sou eu que arco com as consequências. só eu sei como eu durmo e acordo, só eu sei o gosto do que saboreei por aqui. só eu. só eu sei o quanto me custaria usar de determinados recursos pra fazer as coisas aqui caminharem de maneira diferente. então, só eu posso decidir o que vou fazer. ou não, como diria o caetano.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

setembro

para mim e para os meus, setembro reinaugura saudades. elas completam anos, renovam ciclos e, num eterno modificar-se, perduram em cada um de nós. em uns, é maior, mais intensa, mais latejante. em outros, é menor, menos diária. mas é igualmente saudade em todos nós, porque sabemos que nunca mais seremos nós completos.
lembrei-em hoje, num banho de mar de homenagem à saudade, que mia couto um dia escreveu:
"Cruzo o rio, é já quase noite. Vejo este poente como o desbotar do último sol. A voz antiga do Avô parece dizer-me: depois deste poente não haverá mais dia. E o gesto gasto de Mariano aponta o horizonte: ali onde se afunda o astro é o mpela djambo, o umbigo celeste. A cicatriz tão londe de uma ferida tão dentro: a ausente permanência de quem morreu. No Avô Mariano confirmo: morto amado nunca mais pára de morrer."
Mia Couto em Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

agosto chegou aqui na cidade que se diz forte. trouxe consigo o vento que eu não conhecia, que uiva nas minhas janelas, que carrega a maresia grudenta que meus pés acabam de espalhar por aí. trouxe também uma melancolia dura, às vezes amarga, às vezes infinita.
dei de ler adélia prado, ouvir músicas tristes.

Estreito
Agosto, agosto
os torrões estão leves,
ao menor toque se desmancham em pó.
Estrela de agosto,
baça.
Céu que se adensa,
vento.
Papéis no redemoinho levantados,
esta sede excessiva
e ciscos.
Um homem cava um fosso no quintal,
uma idéia má estremece as paredes.
Adélia Prado