sexta-feira, 26 de junho de 2009

carrossel

no rockingham mall, em salem, new hampshire, sento-me e observo a vida, que passa ao meu redor. um senhor, os cabelos brancos jah, sobe no carrossel e procura junto com uma menininha um cavalo. acham o cavalo, ele a ajuda a subir, ajeita-lhe o cinto de seguranca. o carrossel emite um som, vai comecar. e eh soh a musica soar e o cavalo comecar a subir e descer pra que ela, a menininha, se abra num sorriso. e que ele, o senhor dos cabelos brancos, sorria com o rosto inteiro. olhos, testa, boca, tudo sorrindo no rosto cheio de rugas, tantas marcas de tempo. ele deve viver pr'aquele sorriso, pensei. aquela alegria compartilhada entre os dois a me mostrar que a gente precisa mesmo eh de muito pouco pra ser feliz. que um sorriso espontaneo, dado ao som da musica e do balanco de um carrossel mequetrefe vale mesmo mais do que grandes momentos, grandes realizacoes. meu avo tinha toda razao quando dizia que a felicidade de verdade eh a pequena, do dia-a-dia.

terça-feira, 23 de junho de 2009

ha muitos dias, uma ideia nasceu dentro de mim. eh soh empolgacao, pensei. nao dei bola, fiz alguns comentarios com pessoas, mas ateh pra mim mesma era dificil imaginar a dita ideia como uma ideia forte, definitiva, duradoura. pensava que, ao retornar pra minha rotina, pra minha vida de todo dia de que eu gosto tanto, o mundo todo voltava pro lugar de onde nao deveria nunca sair, sem ideias subversivas a me corroer as entranhas. nao aconteceu conforme o planejado, mostrando-me mais uma vez que eu tenho soh a ilusao do controle.
tenho aprendido, a penas as vezes muito duras, que a vida eh curta demais. que ha muito mais entre o ceu e a terra do que sonha a minha va filosofia, eu jah sei faz tempo. mas isso nunca foi tao real como agora. e assim a ideia nasceu, cresceu, ganhou corpo e forma e tem ocupado todos os espacos vazios e mais alguns nao tao vazios assim. pensei outro dia na ideia e quase perdi o fio da meada da aula... nao tem biologia que segure minha mente quando ela vai a mil por hora.
pra alguem, como eu, que gosta de tudo no seu devido lugar, que gosta (ateh demais) de manter o controle da situacao, esses ultimos dias tem sido dificeis. o sol nasce e vai embora no lado oposto do horizonte e nao acho uma resposta definitiva pra essa pergunta.
soh mesmo a minha feh de que tudo vai chegar no seu devido lugar ao seu tempo pra me sustentar. afinal de contas, como minha mae repete desde que eu me entendo por gente: nao ha nada como um dia apos o outro.
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recebi, ainda agora, um email falando de saudade, de amor, de vontade de sentar na beira-mar e conversar... no polivalente, muita saudade e o significado de 'familia' expresso em palavras bem escolhidas e com uma clareza dificil de comparar. eh, soh familia diz certas coisas. eh esse amor todo que transita entre nos que me segura.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

linhagem

eu descendo de mulheres fortes. tao fortes que, as vezes, sao duras demais e me assustam. mas gosto, me orgulho de ter em mim tracos daquelas mulheres de forca, de coragem, de decisoes surpreendentes. muitas delas conseguem ser fortes com uma docura imensa, o que me faz admira-las ainda mais. nao tenho essa docura toda em mim, sou peh-no-chao demais, franca demais, objetiva demais.
vinda dessa linhagem, minha geracao se constituiu tambem com mulheres fortes. nossos tracos se mostraram com clareza enorme desde muito cedo, dava pra ver nas brincadeiras e nas brigas da infancia, deu pra ver na rebeldia da adolescencia, da pra ver claramente hoje, que somos todas adultas. sou feliz por pertencer a esse time de mulheres de genio forte e opinioes definidas, que, no meio de tantos superlativos, conseguem se amar e se respeitar.
tenho pensado muito na minha familia. na heranca e no legado dos meus antepassados, sobretudo nas mulheres que nasceram antes de mim. minha vida familiar foi marcada pela distancia: minha mae saiu de perto pra se afirmar como individuo e nunca mais voltou. eu - que nunca tive problemas em me afirmar, perto ou longe, sou eu mesma - ironicamente tambem sai de perto. agora, sinto vontade de voltar pro ninho. quero a convivencia com seus problemas, com o peso que isso pode trazer, mas tambem com a leveza que isso tem.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

to chegando

aqui ainda eh casa. to chegando devagar, depois de tres semanas e muita coisa vivida, pensada, vista. aqui nao tem ninguem pra colocar mais agua no feijao porque eu to chegando, nao tem rostos risonhos me esperando no aeroporto. o oficial da alfandega diz: welcome home, ma'am. e eh bom, como sempre, ouvir isso. aqui, nao importa o que aconteca, vai ser sempre a minha casa - tambem.
mas me faltam alguns pedacos aqui. esses pedacos faltantes me pesam agora no equilibrio deslocado, que faz o corpo pender pro lado, penso em cair, paro, respiro. sigo em frente. a frase que me vem a mente me diz assim que tudo tem o seu tempo certo, que, de alguma forma tudo vai chegar no seu lugar devido. ninguem nunca morreu de pedaco faltante, eu certamente nao serei a primeira.
o peso dos pedacos que ficaram ao sul da linha do equador, que de uma hora pra outra cresceu de escala, me faz enxergar que eh hora de parar pra pensar no que pode estar por vir. eh preciso tomar um decisao quanto ao rumo, mesmo que seja pra decidir que nao devo mudar o rumo. de alguma forma, tudo vai mesmo chegar no seu devido lugar. esse barco, algum dia, ha de aportar em algum lugar seguro.
boston me recebeu nesse quase meio de junho com chuva, 14 graus e o seu peculiar vento frio. no onibus pra rodoviaria onde esteve estacionado o meu carro nos ultimos 20 e poucos dias, olho ao meu redor e eh tudo diferente. ainda assim, to chegando.