segunda-feira, 22 de agosto de 2011

agosto chegou aqui na cidade que se diz forte. trouxe consigo o vento que eu não conhecia, que uiva nas minhas janelas, que carrega a maresia grudenta que meus pés acabam de espalhar por aí. trouxe também uma melancolia dura, às vezes amarga, às vezes infinita.
dei de ler adélia prado, ouvir músicas tristes.

Estreito
Agosto, agosto
os torrões estão leves,
ao menor toque se desmancham em pó.
Estrela de agosto,
baça.
Céu que se adensa,
vento.
Papéis no redemoinho levantados,
esta sede excessiva
e ciscos.
Um homem cava um fosso no quintal,
uma idéia má estremece as paredes.
Adélia Prado

domingo, 21 de agosto de 2011

eu achava que era só no norte. meu outro norte, o inventado. eu achava que era a geografia o problema e, portanto, fácil de resolver. não, eu não era mais só no outro norte que eu sou aqui, no meu norte de direito. depois de um ano aqui nessas paragens onde não caibo, posso dizer: sei o que é solidão.

"De vez em quando Deus me tira a poesia
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
O mundo, cheio de departamentos,
não é a bola bonita caminhando solta no espaço.
Eu fico feia, olhando espelhos com provocação,
batendo a escova com força no cabelos,
sujeita a presságios.
Viro péssima cristã."

Adélia Prado (trecho do poema Paixão)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

novos ventos

fortaleza não é o pior lugar do mundo, muito menos é uma cidade ruim de se viver. é, simplesmente, um lugar onde não me sinto completamente em casa, onde eu não me encaixo perfeitamente. apesar de ser o lugar de diversas das minhas memórias afetivas, sobretudo aquelas ligadas à família. talvez por isso, passar uns dias fora de fortaleza me fez um bem grande. foi importante, naquele momento, experimentar um pouco do brasil que não é fortaleza, não é ceará. que ainda tem diversos dos problemas e questões que me afligem aqui, mas que também conta diferenças acalentadoras. observar um pouco do brasil fora daqui me fez voltar com uma sensação boa de que há pra onde fugir na hora em que eu estiver pronta. agora, ainda não é a hora.
voltei com uma sensação muito forte de que, em algum momento, quando eu menos esperar, um caminho se apresentará e eu só precisarei segui-lo. esse é um tema recorrente em minha vida: lutar, batalhar, ir atrás com todas as forças de algo que não aparece, que não acontece, que não se materializa. e, assim como num passe de mágica, no momento em que eu relaxo, em que a tranquilidade finalmente chega a mim, algo que eu nem ousei desejar de tão bom aparece, se concretiza, materializa e eu ganho um caminho a seguir. (porque eu gosto de seguir na vida por caminhos.) tenho aprendido a ouvir minha voz interna, seguir minhas intuições. entrego-me então a essa intuição de que tudo vai se resolver, que o caminho vai aparecer e que tudo volta pro eixo em algum momento, mais cedo ou mais tarde.
enquanto isso, saboreio a vida perto do mar, do vento do mar, da maresia que gruda no chão de casa, nas roupas secando no varal, em cima da geladeira. aproveito o sol do trópico em banhos de mar matinais e a brisa fresca em caminhadas noturnas. voltei a cozinhar - pra mim e pros meus. e isso só pode ser sinal de que bons, novos ventos soprarão por aqui.