sábado, 21 de agosto de 2010

sobre

azedar o caldo e o dia dos outros é fácil. falar o que quer, na hora que quer, do jeito que quer é fácil. difícil é se responsabilizar sobre o que foi feito e dito.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

20 de agosto de 1982

sexta-feira já foi pra mim o dia que antecedia os dois dias da semana sem escola. já foi dia internacional da cerveja, nos tempos da faculdade, no lanches lu, pertinho da linha do trem, entre duas montanhas das gerais. já foi dia de colocar as penas pra cima, cansada do dia de aula, do laboratório com uma das minhas turmas preferidas da minha vida de educadora.
exatamente hoje, sexta-feira, essa sexta-feira 20 foi dia de saudade:
um menino dos cabelos amarelos, de bochechas salientes, de um eterno riso fácil. de abraços e chamegos, de um amor maior que o mundo. meu primeiro neném, minhas primeiras fraldas de verdade, um algodãozinho na testa quando tinha soluço. o menino por quem eu um dia fui bater boca com outro no fliperama perto do colégio. o menino que ficou na escola sozinho um dia, o pai se atrasou por qualquer problema no trabalho. e eu fui lá, salvá-lo daquele pátio já escuro, com direito a pito no pai, sem nem antes saber o que havia acontecido. meu menino e o bilhete que ainda tenho, de quando eu fui fazer faculdade e nós, pela primeira vez, ficamos separados no espaço.
perduram nele hoje o sorriso fácil, o jeito mole de falar de filho caçula. perduram em mim as lembranças doces da casa da rua das dálias e o amor maior que o mundo. esse, o amor, há de perdurar sempre, maior que o mundo, profundo e até sofrido. mesmo que entre nós haja kilômetros e tempo. mesmo assim, mesmo que qualquer coisa aconteça, eu tenho certeza do amor que cresceu junto com o menino de cabelos amarelos que se transformou no homem de cabelos castanhos que continua a ser, antes de tudo, meu menino de cabelos amarelos e riso fácil.

toró

bendito seja o youtube numa noite solitária de sexta-feira:

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

fortaleza

o nome dela remete a força, proteção. ela deveria ser, então, onde nos sentimos seguros.
nos reencontramos eu e ela já fazem uns dias. eu a vi da janela do avião, a me apresentar seu cartão postal: um mar azulverdeturquesa, o litoral recortado por rios, ruas quadradinhas, uma beleza.
de perto, ela não é bela, apesar do slogan desastroso. de perto, ela me parece pequena. não em números, esses parecem quase todos tender ao superlativo. de perto, ela é pequena em expressão. são buracos, engarrafamentos, falta de educação e de respeito, crimes, liberdades tolhidas, desejos reprimidos, oportunidades escassas e tantas mil outras coisas que não permitem que ela se engrandeça, que os seus se engradeçam junto. formamos, nós e ela, um amontoado que se apequena todo dia, um pouco de cada vez, sem que ninguém perceba. um amontoado que se engasga toda vez que quer se expressar, que quer projetar sua voz pra frente, que quer ser diferente de alguma forma.
todos nós somos: o menino que pede dinheiro na porta da padaria, o velho que está sempre no sinal da oswaldo cruz com antonio sales a sacudir moedinhas na mão em busca de mais, os jovens que cuidam dos carros estacionados, a moça que nos fita de dentro do ônibus apinhado de gente. de nada adianta você estar em seu carro, de ar condicionado ligado, falando ao celular ou ouvindo no rádio um clássico da música popular brasileira. você continua sendo todos aqueles que ela, a fortaleza, exclui.