sábado, 31 de outubro de 2009

this is it

nao sou fa do michael jackson. nunca fui. nao fui um daqueles que se embasbacou ao ver o clip de thriller, nao sei todas as musica dele de cor e salteado, nao sei dancar como ele, nao sou nem mesmo uma grande fa do pop. reconheco, entretanto, o talento que lhe construiu a fama. e, por isso, me incomodavam profundamente as esquisitices dos seus ultimos anos; um homem tao talentoso nao precisa disso, era o que eu pensava. ele soh precisava do seu talento, do dom pra seguir fazendo sua musica.
fui hoje assitir ao this is it, filme feito com as filmagens dos ensaios pra seu mais recente espetaculo. e nao dah pra nao se deixar contagiar com a batida, sobretudo quando michael jackson acompanha milimetricamente cada batida com algum movimento de seu corpo. eu sempre me impressiono com pessoas que amam seu oficio; nesse mundo em que tantos trabalham soh por obrigacao, gosto de ver quem trabalha com e por amor. e foi essa a minha sensacao ao ve-lo ensaiar, interagir com os dancarinos, musicos e equipe.
o menino ao meu lado, vestido com a luva brilhante e os oculos escuros, esqueceu-se que estava no cinema e se mexia na cadeira e cantava como se estivesse na sala de sua casa. tive vontade de tira-lo pra dancar, tive vontade de chamar todo mundo dentro daquela sala de cinema pra, juntos, dancarmos ao som dos ensaios de michael jackson.
vim pra casa ainda com os pes fervendo com vontade de se render ao ritmo. vim pra casa com o brilho do olho do menino ao meu lado gravado no meu olho. eh das criancas, sempre, a reacao mais genuina.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

a tia neile disse, num dos momentos dificeis que vivemos nos ultimos anos, que o vovo firmino ficaria muito orgulhoso ao ver tanto amor circulando entre os seus. essa frase ecoa na minha cabeca desde entao, toda vez que a gente faz circular esse amor que nos une. toda vez que todo mundo faz um esforco danado pra estar junto, toda vez que algum precisa e outros estao lah de bracos abertos, maos estendidas. somos mais felizes por isso.
mila passou hoje por uma cirurgia. era um procedimento relativamente simples, mas uma cirurgia eh sempre uma cirurgia e a gente sempre tem um pouco de medo. mas o medo, a apreensao natural do momento sao infinitamente menores que a certeza de que estamos todos vibrando no mesmo tom. quem pode ir, foi. quem nao pode, ficou de longe e se fez presente de algum jeito. na diversidade que nos eh caracteristica, houve quem rezasse, houve quem dancasse, houve quem pensasse positivo. mas nao houve ninguem que ignorou, esqueceu ou subestimou o que estava acontecendo.
mila acordou da anestesia pra encontrar oito olhos de amor a lhe fitar. e mais nao sei quantos espalhados por aih, sem poder fita-la, mas a ver sua imagem refletida na cornea o dia inteiro. do mesmo jeito que ela ficou feliz ao receber os que foram de longe e ao ler os emails de boa sorte de ontem, hoje ela ficou feliz com um monte de telefonema, todo mundo querendo fazer um pouco, tantas maos estendidas naquela direcao.

domingo, 25 de outubro de 2009

na conversa de ainda agora:

- tia mari, quantos anos voce tem?
- eu tenho 33, e voce, quantos anos tem?
- eu tenho 5.
- eu tambem quero ter 5 anos, vou comecar a contar a todo mundo que essa eh a minha idade.
- as pessoas nao vao acreditar...
- nao? porque?
- porque voce eh grande, maior que eu, neh? assim, os adultos nao vao acreditar, soh os beberes talvez acreditem...

"... pra lah desse quintal, era uma noite que nao tem mais fim..."

a musica me chegou via rio de janeiro, e, embora seja cantada em italiano, me diz em portugues muito claro que eu nao estou sozinha no mundo. baixei a musica no meu ipod, pra escutar em dias como hoje, em que eu brinco com a solidao ao meu redor. outras mensagens chegaram e continuam a chegar todos os dias: nao, elas dizem, voce nao estah nunca soh, pode estar soh em haverhill, pode estar soh no espaco imediato que te circunda. mas nunca, jamais, estah soh no mundo.
sei bem onde fica o meu quintal, que nao estah nunca vazio, onde nao fica escuro nunca. meu quintal movel, meu quintal magico, que se muda, se molda ao necessario. que nos abriga todos, que nos da casa, que representa o ponto no espaco inifinito pra onde nos todos podemos voltar a qualquer momento. essa semana, o quintal se muda pra salvador. obvio, nao vai vazio. obvio, se molda a necessidade do momento. os habitantes desse quintal, mesmo os que nao se mudam junto com ele, podem se dar as maos. cada mao em sua propria coordenada. tantas maos que, juntas, subvertem a logica, a geografia, a fisica, a biologia. somos todos, dentro desse quintal, um soh.

meus escritos hoje, junto com meu amor eterno, sao pra ela.
na terca, minha energia, minha feh, junto com meu amor eterno, serao pra ela.

sábado, 17 de outubro de 2009

metafora


no outono, nos despedimos. vao-se os dias de calor, em que as pessoas se abrem pra vida, se abrem pros outros. vai-se, por meses, a possibilidade de tirar da terra o alimento. vai-se a possibilidade de brincar no parque, de usar chinelo de dedo, blusa de manga curta, tomar sorvete sentado na mesinha ao sol da sorveteria. despedimo-nos do sol que, nos proximos meses, vai nos chegar frio e distante, quase querendo nao vir.

no outono, eu me despeco. nao sem um pouco de melancolia, que eh a melancolia o lado mais belo da despedida. caminho por estes caminhos que me fizeram a vida nos ultimos anos pela ultima vez, sorvendo as sensacoes, esticando a memoria, criando paralelos na minha cabeca inquieta.

mas a luz do outono nao permite que esse tempo de despedidas seja triste. olhamos todos pra frente, para a possibilidade do branco infinito da neve, a maciez inigualavel daquele mar alvo que ha de nos ocupar todos os espacos dentro em breve. eu olho pra frente tambem, e vejo o brilho do sol do equador, vejo as areias brancas de iracema, vejo o verde intenso na mata que cobre a montanha ao sul da cidade, o calor que ha de me acompanhar o dia-a-dia.

a infinidade de tons de vermelho, amarelo, roxo e cor-de-laranja colore de beleza a melancolia que me enche o espirito em dias como hoje.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

um beijo pra tu

eh heranca familiar, terminar conversas ao telefone com um sonoro um beijo pra tu, dito assim tudo junto como se fosse mesmo umbeijopatu. aprendemos o habito carinhoso com o vovo firmino, que encerrava todas a ligacoes assim. comigo, ele jah esperava caladinho, quando a ligacao ia chegando ao fim, que eu dissesse: vo, um beijo pra tu! e ele, invariavelmente, respondia: um beijo pra tu, mulher doida! tudo dito com entonacao caracteristica que meus ouvidos, ainda bem, nao esquecem. tudo cheio de carinho, do avo que nao tinha mesmo muita paciencia com as criancas barulhentas que foram alguns de seus netos, mas que mesmo assim sempre levava pedacos do grupo pros tradicionais fins-de-semana na serra. e que curtiu muito as conquistas e o desenvolvimento de cada um mais pra frente na vida. do avo que contou com quantos anos eu iria defender minha tese quando entrei no doutorado, que vibrava com minha realizacao pessoal e profissional e se preocupava com as cabecadas que eu dava na vida.
hoje, tinha dois emails terminados com um beijo pra tu na minha caixa de correio. heranca familiar que me faz vir aqui e continuar a ser repetitiva. esse blog tah virando variacao do mesmo tema, eu sei. entao eu explico que meu ponteiro tah apontado pro sul e, sobretudo nesse ultimos momentos dificeis, tem sido eles a minha forca e inspiracao. e continuo, porque nao ha outro jeito, a ser assim monotematica.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

luz do meu dia

quando o telefone toca fora de hora, nem sempre eh coisa ruim, como reza o medo de quem mora longe da familia. quando toca o telefone fora de hora, no meio do dia, pode ser ela pra dizer que ouviu uma conversa sobre a volta da tia mari. pra dizer que ficou feliz que a tia mari vai morar pertinho, que sabe que eh por causa dela que a tia mari volta, que quer saber em que casa a tia mari vai morar. vai dar pra ir andando? vamos nos ver todos os dias? voce nao vai mais viajar? quando eh que voce chega?
quando toca o telefone no meio do dia, pode ser soh o amor que fala sempre mais alto. podem ser os lacos que se manifestam tao doces, tao completos nessa imensidao de atlantico que ainda, e soh por enquanto, nos separa.

espera aih, meu amor, que eu to chegando.

"...como o arco da promessa
do azul pintado pra durar..." (beto guedes e ronaldo bastos)

domingo, 4 de outubro de 2009

minha mae me acordou de madrugada, de quinta pra sexta. me chamou como soh ela me chama, chorou de saudade e disse das belezas de lah. me fez sentir como soh ela me faz. me acordou do sonho e mandou-me de volta pra ele, transicao perfeita, linear. acordei no dia seguinte com as palavras da adelia na cabeca.

Solar
Minha mae cozinhava exatamente:
arroz, feijao-roxinho, molho de batatinhas.
Mas cantava.
Adelia Prado

do pouco que eu sei

alguem vai dizer que viver nao eh facil. que nao tem manual de instrucoes, roteiro pre-definido, bula com contra-indicacoes e efeitos colaterais. alguem vai dizer que daqui a gente soh leva o essencial, o que nao ocupa lugar no espaco, muito menos tem massa. alguem vai dizer, assim com cara de filosofia, de quem sabe muito, que a vida eh dura.
eu me permito discordar, pra nao me preocupar a toa e deixar de viver enquanto. me permito a rebeldia de seguir e sorrir, mesmo nas horas mais escuras. permito musica nos meus ouvidos, gosto do apito e do barulho do trem. gosto das folhas coloridas que caem no outono e das verdinhas que brotam da noite pro dia na primavera. gosto do verde do mar, do turvo da agua do rio que passa logo embaixo da piscina da serra. gosto do sol quente e do sol frio, da chuva e da neve e ateh da seca. admiro o casulo que um dia vai ser borboleta, sem dele precisar nenhuma explicacao. gosto do barulho das criancas que atrapalham a minha conversa ao telefone, interrompem o papo serio pra perguntar que dia eu chego.
nutro aquilo que ha dentro: planos, sonhos, desejos, enfim. nao eh minha intencao planejar, mas nao posso dizer que soh vivo hoje. tambem gosto do que estah no meu exterior, cuido bem da casca e gosto daquilo que, eu sei, nao eh essencial. gosto de bolsas e sapatos, mas sei que eles sao soh o que sao. queria dizer que nao preciso provar nada a ninguem, mas nem sempre ajo de acordo. luto todo dia contra esse bando de verbo no preterito do futuro que circula pela minha cabeca. perco algumas dessas batalhas, mas sigo lutando.
isso, sim, sem precisar provar, eu tenho em mim. resistencia e resiliencia que vem de longe, que viram dureza em alguns momentos, que ateh me assustam em tempos. mas que me seguram quando a poeira me impede de ver o que ha em frente, quanto o incerto eh maior que o certo.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

thanks god it's friday

sexta-feira, e eu jah acordo com o pensamento no sabado, no dia que eu durmo enquanto meu corpo quer, que eu faco muio ou pouco, ao meu prazer e contentamento. dia em que eu nao preciso ir a nenhuma reuniao, nao preciso me comportar do jeito que a ocasiao ou o ambiente pede. posso soh ser eu, ficar em casa, descabelada ou me arrumar toda e sair por aih. mas sou soh eu. posso olhar o mundo que se colore ao meu redor, o tempo que muda, os passaros que voam pro sul, as pessoas que se preparam pro inverno.
a gente viu essa sexta chegar com um boa noticia: helena tem uma infeccao bacteriana, vai se tratar com antibioticos, vai ficar boa. e a mae dela vai lhe contar daqui a alguns anos, como a gente quase morreu do coracao nesse pouco mais de uma semana que durou essa jornada, que sentimos muito medo, mas que tinha um monte de gente junto conosco nesse caminho. que tinha gente rezando aqui, em porto rico, no brasil e na europa. quando ela crescer o suficiente pra entender direitinho o que ha por tras das palavras que os adultos colocam em frases enigmaticas, ela vai entender o quanto eh amada. soh por ser ela, daquele jeitinho mesmo.
alem de thanks god it's friday, eu digo tambem thanks god, you all exist!