segunda-feira, 25 de julho de 2011

"na terra em que o mar não bate
não bate o meu coração
o mar, onde o céu flutua
onde morrem o sol e a lua
e acaba o caminho do chão..."

letra de caetano veloso, musicada por gilberto gil

sábado, 2 de julho de 2011

todo o bem que eu fizer

se você me fizer algum bem, um favor, uma gentileza, espero, do fundo do meu coração, que você o faça porque me quer bem, porque me julgou merecedora, porque teve vontade. espero, sinceramente, que você saiba que não me deve nada e, portanto, não tem que me fazer algum bem, um favor, uma gentileza. eu também, quando for fazer algum bem a você, um favor, uma gentileza ou qualquer outro gesto, vou fazê-lo porque te quero bem, porque quero te ajudar, porque te julgo merecedor, porque me deu vontade. nunca porque eu ache que te devo algo e me sinta obrigada a retribuir. e porque é de coração aberto que eu te dou algo de mim, não preciso esperar que você me dê algo em troca, não vou te cobrar ou lembrar anos depois quando você, por um motivo qualquer, me disser um não.
não me sentir devedora, entretanto, não significa que eu não sinta gratidão. não significa que eu me esqueça das bondades (muitas) que recebo pela vida. lembro-me de todas, guardo-as comigo e as uso como inspiração. mas todo o bem que eu te fizer, tenha a mais absoluta certeza, não foi movido pelo sentido de pagar a dívida e, sim, pela minha mais genuina vontade de fazê-lo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

eu não sou daqui, marinheiro só

mais do que ignorar e seguir adiante como se não fosse comigo, a hostilidade de fortaleza me magoa, me dói fundo, me entristece. pensei que fosse me acostumar e, talvez até passar a fazer igual, como vejo muitos dos meus fazerem. mas não, ao invés disso, volto pra casa diariamente chateada porque a moça do supermercado não me respondeu o boa tarde, o carro atrás de mim buzinou porque eu deixei que um pedestre atravessasse a rua ou qualquer outra gentileza que eu tenha tentado fazer, sempre recebida pelos outros com impaciência, desconfiança ou algum outro tipo de irritação. por aqui, vamos na contramão do mundo, onde se tenta interagir mais, criar comunidades, viver de maneira o mais comunal possível. busca-se, por aí, o pessoal e íntimo - como saber de que chão saíram o pepino e o tomate que você comeu na salada do almoço, como ajudar a pintar a escola do seu filho, como se juntar pra bater fotografia junto, como usar o espaço da associação de moradores da cidade ou do bairro pra ensaiar o coral. e como mais um monte de outros exemplos e histórias que eu vivi e trago comigo.
queria me sentir capaz de multiplicar esse efeito, queria me sentir responsável também pela modificação, ainda que incipiente, da forma como se estabelecem as relações sociais entre estranhos nessa cidade que eu, afinal de contas, escolhi pra mim. queria concordar com um primo que me disse que aqui ainda se tem mais a fazer que lá, que os desafios são maiores, mais instigantes e que eu tenho mais a contribuir aqui que lá. nunca senti falta de ideais lá, nunca senti que havia pouco a fazer e nunca deixei de me sentir instigada pelos desafios - diferentes dos daqui, é claro - que apareciam no meu caminho.
na verdade, sinto como se aqui não houvessem desafios pra mim. ou melhor, como se o desafio maior aqui seja interno, pessoal, tão só meu. pouco posso contribuir, há pouco pr'eu fazer aqui simplesmente porque eu não sinto a pertença. ainda me sinto, às vesperas de fazer um ano da minha chegada, como se fosse estrangeira nessa terra que abrigou meus antepassados e que eu pensei ser minha também. eu sempre soube que não tinha raízes e, portanto, poderia me fixar em qualquer lugar que quisesse. e nunca, em nenhum dos lugares por onde andei, me senti tão forasteira.