terça-feira, 5 de abril de 2011

de verdade

nos últimos dois meses, só tenho tido vontade de sair, fugir, ir embora, deixar pra trás. é minha cabeça que impede que a vontade vire ação, que eu compre a passagem de avião com que eu sonho dia sim, dia não e concretize as idéias mirabolantes que povoam meus pensamentos bem na hora em que, ao deitar, as luzes se apagam e eu fico só com os meus botões. há também, uma senhora de quase noventa e dois anos que quer muito que eu seja feliz, três crianças que querem que eu fique, uma casa logo depois de baturité (de onde guardo as melhores lembranças infantis) e o mar da virgem, que me banha de vez em quando.
eu ainda sorrio. mesmo quando a insatisfação exala de quase todos os meus poros, eu não desaprendo a sorrir. eu ainda olho pra frente, sigo, acordo cedo nos dias de semana. planejo atividades de trabalho, de um trabalho que vai acontecer por minha conta e risco, porque não há estrutura por aqui. porque não se pode ter uma mesa na instituição, porque não há verba e todos querem que você dê um pouco mais.
sorrir não impede que eu me decepcione diariamente com a sétima potência econômica do mundo. o país moldado pelo menino do interior de pernambuco que virou sindicalista e depois presidente não me convence, não instiga a paixão que me faria trabalhar por ele em qualquer condição que fosse.
guardo com zelo um livrinho de capa azul, que cabe em qualquer bolsa, que já me levou para outros países e foi meu passe de entrada. ele está escrito numa língua que não é minha, cita o local de nascimento com o qual tenho pouca relação. mas ah! como eu guardo aquele livrinho, como eu sorvo, a cada vez que abro aquela gaveta, o cheiro da possibilidade de ir e não voltar nunca mais, não me sentir pequena nunca mais, nunca mais achar que eu não vou conseguir. ele, o livrinho, e os aviões estacionados no pinto martins me inspiram nos dias mais abafados. não pelo calor da região - ao calor eu me acostumei rápido - mas por essa eterna sensação de quem sabe um dia.

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