quarta-feira, 4 de agosto de 2010

fortaleza

o nome dela remete a força, proteção. ela deveria ser, então, onde nos sentimos seguros.
nos reencontramos eu e ela já fazem uns dias. eu a vi da janela do avião, a me apresentar seu cartão postal: um mar azulverdeturquesa, o litoral recortado por rios, ruas quadradinhas, uma beleza.
de perto, ela não é bela, apesar do slogan desastroso. de perto, ela me parece pequena. não em números, esses parecem quase todos tender ao superlativo. de perto, ela é pequena em expressão. são buracos, engarrafamentos, falta de educação e de respeito, crimes, liberdades tolhidas, desejos reprimidos, oportunidades escassas e tantas mil outras coisas que não permitem que ela se engrandeça, que os seus se engradeçam junto. formamos, nós e ela, um amontoado que se apequena todo dia, um pouco de cada vez, sem que ninguém perceba. um amontoado que se engasga toda vez que quer se expressar, que quer projetar sua voz pra frente, que quer ser diferente de alguma forma.
todos nós somos: o menino que pede dinheiro na porta da padaria, o velho que está sempre no sinal da oswaldo cruz com antonio sales a sacudir moedinhas na mão em busca de mais, os jovens que cuidam dos carros estacionados, a moça que nos fita de dentro do ônibus apinhado de gente. de nada adianta você estar em seu carro, de ar condicionado ligado, falando ao celular ou ouvindo no rádio um clássico da música popular brasileira. você continua sendo todos aqueles que ela, a fortaleza, exclui.

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