quarta-feira, 24 de novembro de 2010

eu não sou da sua rua

em quinze anos fora de casa, longe dos meus, aprendi a sentir saudade. o que no começo vinha como dor, como agonia que não passa porque só pode terminar com a proximidade, se transformou em sentimento mais sereno, em algo que se pode diminuir com o telefone, o skype e qualquer outra ferramenta tecnológica que possibilite o contato à distância. aprendi a contar os dias até matar a saudade, aprendi a viver com ela todo dia um pouco, como só as coisas rotineiras podem ser. aprendi que, muito mais que ausência, saudade é presença. saudade é ter alguém, é ter porto seguro, é ter um norte pra onde se pode rumar a qualquer momento.
nos últimos quinze anos, minha saudade se multiplicou. passei a sentir saudades, que se apresentavam absolutamente diferentes umas das outras. consegui, com o tempo, identificar cada uma delas, como se elas tivessem nome. não foi somente porque a vida levou alguns pra longe. não foi só porque alguns de nós já não mais podem nos abraçar - nem mesmo quando o magote todo se reune pro natal ou pra já tradicional viagem ao logradouro entre o natal e o ano novo. é porque saudade é pessoal e instranferível, cada saudade tem em si o nome da pessoa escrito e adquire assim características próprias. cada saudade é uma entidade.
nunca cansei de sentir saudade. como poderia, se foi ela minha companheira em muitos momentos? como poderia cansar-me dela, se era ela quem me lembrava de onde eu sou, onde estão minhas raízes? sentir saudade me fez entender que, por ter raízes tão profundamente fincadas na terra dos meus, eu pude sair. busquei outros mundos, outras histórias, vivi outras culturas única e exclusivamente porque eu sabia que tinha pra onde voltar.
e voltei. voltei pra onde vários dos meus nasceram e cresceram. voltei pra onde estão minhas raízes, enredadas no solo, trançadas com outras raízes. e trouxe comigo pedaços do mundo por onde andei, onde também, sem saber, deixei fincadas algumas raízes. mas voltar não é fácil e eu tenho acordado me sentindo estrangeira numa terra que deveria ser minha. numa terra onde eu deveria me sentir em casa. sou um peixe de mar nadando em água de rio, sentindo falta da salinidade. mas do que contar os dias pra matar a saudade, conto agora os dias pra que minha rua vai seja minha de fato, pra que eu tome posse do que é meu e consiga absover água da terra através de minhas, tão profundas, raízes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário