segunda-feira, 2 de maio de 2011

fitting

i don't fit here. that's what a realize every single day as i try to work through the system, to work with the people, to work through life as it is here in this country. i don't fit as i drive, walk, say i'm sorry and excuse me, please and thank you or even as i say good evening to the lady that opens the door every monday and weds when i arrive at the place where i take my pilates lessons. she never replies to me, she never even looks at me. and, before i'm misjudged by the previous statement, i should say that i understand the context, i understand that i'm probably the only person who looks at her, who sees her behind the desk next to the door and who acknowledges her presence. i do understand the context of many of the things i see and deal with on a daily basis. i do. but that doesn't help me accept what happens as naturally as most here do. and then, once again, i realize: i don't fit here.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

285 anos

fortaleza nasceu pra mim há trinta e poucos anos, bem na época em que eu começava a me entender por gente e aprendi que fortaleza, além de ser a terra da família da minha mãe, era a terra onde eu passava férias. nessa época fortaleza tinha pés de jambo e de carambola pelas ruas do bairro que uma dia havia sido a fazenda do meu bisavó, a estância. fortaleza pra mim era principalmente esse bairro, onde moravam meus avós, tios, primos. a gente zanzava de uma casa pra outra, exercitando a imaginação, criando brincadeiras, aprontando o que a gente podia. dessa época, lembro com clareza de quão agradável era a cidade, de árvores, de praia limpa e segura. podíamos andar na cidade! havia calçada onde pisar, o trânsito não era tão caótico e a gente não se sentia na iminência de um assalto o tempo inteiro.
é dessa época uma das minhas lembranças mais antigas, da minha avó abrindo o portão da casa da joaquim nabuco para que meu pai entrasse com o carro, a gente acabando de chegar de salvador, depois de muitas horas de estrada. foi também nessa época que eu me perdi, voltando da casa da minha tia para a da minha avó, e fui levada para o canal dez por um estranho que me achou sentada no meio-fio, chorando por estar perdida. e eu fiquei - e lembro disso - numa sala que tinha monitores de televisão do chão ao teto, enquanto esperava que alguém fosse me buscar. e como a família quase toda morava por ali, choveu gente pra me buscar e me levar de volta pra minha mãe lívida e assustada.
hoje, fortaleza completa 285 anos. e não tem mais as árvores, as calçadas, a praia limpa. a cidade não é mais pra pedestres, mas também não é agradável aos carros, que trafegam entre buzinas, buracos e todos os tipos de infração. a cidade hoje tem mais edifícios que casas. não se vê o mar, porque o paredão de prédios permite, quando muito, uma faixa estreita de verde. mas, de tudo, o que mais me intriga é o fato de que a cidade é feita por pessoas, mas não é agradável às pessoas. nós, o moradores da cidade conseguimos construir uma cidade anti-pessoa. que não permite convivência, onde não há praças, onde é cada um por si e ponto final. que vai, aos poucos, perdendo um tanto de sua beleza, de suas possibilidades de interação, de conhecer não somente os vizinhos, mas também quem mora no outro quarteirão, do outro lado da rua, no prédio ao lado.
ainda procuro a beleza da cidade que há algumas gerações acolhe os meus. e que me acolheu há uns meses, com seu modo impessoal e apressado. tento achar algo que me agrade, que me permita ver música, poesia, pintura no asfalto, no concreto, no barro. talvez eu precisa ainda me abrir para a cidade, internalizá-la como se aqui eu tivesse morado toda a vida, aceitá-la como ela é. talvez me falte ainda gostar, apesar de questionar. e lutar pra que ela volte a ser agradável como nas minhas lembranças.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

run, baby, run

"agora, você reza pra chegar aqui a tempo" - foi o que eu ouvi umas poucas horas atrás, de uma funcionária de uma órgão público federal brasileiro que, segundo muitos conhecidos, é dos poucos que funcionam direito. e enquanto ela proferia as palavras acima, tudo o que meu cérebro me mandava fazer era: run, baby, run! desde sexta-feira a minha vontade é essa. é correr pro aeroporto, é pegar o primeiro vôo que ultrapasse as fronteiras em direção ao norte que me leve a um lugar onde as coisas funcionem, onde eu volte a ser uma profissional competente, onde exista ordem, onde eu saiba o que preciso fazer pra que (quase) tudo corra tranquilo, onde eu possa andar sem medo de assalto, onde eu não sinta na boca o gosto dessa frustração eterna que me persegue já há alguns meses.
quem passar por último, que apague a luz!

terça-feira, 5 de abril de 2011

de verdade

nos últimos dois meses, só tenho tido vontade de sair, fugir, ir embora, deixar pra trás. é minha cabeça que impede que a vontade vire ação, que eu compre a passagem de avião com que eu sonho dia sim, dia não e concretize as idéias mirabolantes que povoam meus pensamentos bem na hora em que, ao deitar, as luzes se apagam e eu fico só com os meus botões. há também, uma senhora de quase noventa e dois anos que quer muito que eu seja feliz, três crianças que querem que eu fique, uma casa logo depois de baturité (de onde guardo as melhores lembranças infantis) e o mar da virgem, que me banha de vez em quando.
eu ainda sorrio. mesmo quando a insatisfação exala de quase todos os meus poros, eu não desaprendo a sorrir. eu ainda olho pra frente, sigo, acordo cedo nos dias de semana. planejo atividades de trabalho, de um trabalho que vai acontecer por minha conta e risco, porque não há estrutura por aqui. porque não se pode ter uma mesa na instituição, porque não há verba e todos querem que você dê um pouco mais.
sorrir não impede que eu me decepcione diariamente com a sétima potência econômica do mundo. o país moldado pelo menino do interior de pernambuco que virou sindicalista e depois presidente não me convence, não instiga a paixão que me faria trabalhar por ele em qualquer condição que fosse.
guardo com zelo um livrinho de capa azul, que cabe em qualquer bolsa, que já me levou para outros países e foi meu passe de entrada. ele está escrito numa língua que não é minha, cita o local de nascimento com o qual tenho pouca relação. mas ah! como eu guardo aquele livrinho, como eu sorvo, a cada vez que abro aquela gaveta, o cheiro da possibilidade de ir e não voltar nunca mais, não me sentir pequena nunca mais, nunca mais achar que eu não vou conseguir. ele, o livrinho, e os aviões estacionados no pinto martins me inspiram nos dias mais abafados. não pelo calor da região - ao calor eu me acostumei rápido - mas por essa eterna sensação de quem sabe um dia.

sábado, 29 de janeiro de 2011

deus e o diabo na terra do sol

as águas das chuvas expõem as feridas abertas da cidade do sol. crateras em constante crescimento. olhamos todos, abobalhados, inertes, ao espetáculo de um "inverno" rigoroso numa região que se acostumou a lidar com secas longas mas nunca soube o que fazer de muita chuva. talvez haja, no inconsciente coletivo de todos, a crença de que o deus sol que nunca nos faltou vá resolver todos os problemas, tapar todos os buracos, curar todas as feridas.
ninguém mais espera grande coisa do poder público num município em que a prefeita completou seis anos de governo com pouco feito nesse sentido. a cidade dela é suja, de asfalto irregular e esburacado, de trânsito caótico, de pessoas infinitamente mal educadas. tampouco é a sociedade civil capaz de se organizar para fazer, mais que cobrar. o que sabemos fazer mesmo é sentar numa mesa de bar e conjecturar. ali, somos todos especialistas, sabemos extamente o que deve ser feito pra resolver os problemas, citamos até números, estatísticas, dados do ibge. alguns até exageram na eloquência do discurso, bradam teorias a quem queira ouvir, sabem mais que qualquer outro.
o que tenho visto, nesses seis meses de brasil, é que os que mais falam, menos fazem. ando fugindo desse tipo de gente: que sabe de tudo, que entende de tudo, de economia à matriz energética do brasil, de história aos benefícios do açaí. que discursa sempre que tem oportunidade, que reclama o tempo todo de tudo e de todos. que está sempre com olhar de crítica pra tudo. são esses que eu vejo por aí a ultrapassar em local proibido, a cortar pelo acostamento no engarrafamento, a jogar lixo na rua, a trafegar na contramão. e se você lhes chama a atenção para o que fazem, eles têm sempre uma desculpa, uma explicação, uma justificativa. seguem acreditando que a contramão deles é melhor que a dos outros, que o papel que deixaram cair na rua era bem pequenininho, que eles só passaram pelo acostamento no engarrafamento porque estavam com muita pressa. a carapuça nunca lhes cai.
sim, estou em crise com meu país. estou no brasil por livre e espontânea vontade e não quero ir embora, mas gostaria de ver aqui alguma promessa de melhora no lugar dessa sensação de que está tudo pior a cada dia. confesso que ainda penso no aeroporto como uma saída e guardo com zelo meu outro passaporte; pode ser que ele, uma dia, volte a me ser útil. a economia melhorou, o poder aquisitivo aumentou. mas nós, as pessoas, continuamos abandonadas. por nós mesmos.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

regresso

E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.
A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Sophia de Mello Breyner

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numa noite cálida, a cinco graus de latitudo Sul, ele me fez uma promessa pro futuro.
não, eu disse. muito obrigada, mas não, eu não aceito. ando querendo promessas para o presente, cansada do futuro que não chega nunca. basta já a felicidade, promessa que diz haver o dia de chegar e, entretanto, conjugada por aqui quase sempre no passado. contento-me com ela. ter um só esperar já me é suficiente.

sábado, 8 de janeiro de 2011

o mar e outros tesouros

meus últimos meses foram assim: um dia após o outro, com uma noite no meio, num exercício da paciência que eu não tenho. ouço diversas vezes, de diversas pessoas: que é assim mesmo, que o momento mais difícil é esse mesmo, que readaptar-se não é fácil, que isso, que aquilo e mais um monte de coisa que não me serve muito de consolo. mas caminhar na vida é assim, e, se tem uma coisa que eu já aprendi nessa caminhada é que não há mal que sempre dure. um dia, essa fase ruim vai passar as coisas entrarão nos eixos como se nunca de lá tivessem saído.
apesar de tudo, sigo a colecionar tesouros em várias texturas e formatos. o mar de águas cálidas da terra de meus antepassados me recebe constantemente para banhos de sossego e paz. apesar de a praia estar quase sempre mais cheia do que eu gostaria, quando estou ali dentro consigo me desligar e me deixar levar, pra pulsar no mesmo ritmo das ondas. três crianças aparecem constantemente pra colorir meus dias, me chamam de tia, me amam como eu nem sei se mereço. toda vez que estão por perto - o grupo inteiro ou em pedaços - me pego a pensar que não posso, de jeito algum, ir pra longe deles. a possibilidade de conviver quase no dia-a-dia nos ensinou a dizer tchau sem sofrer, e, ainda assim, aproveitar qualquer cinco minutos com intensidade.
minha família, que me atura até mesmo quando, de tão chata, nem eu me aguento, converge pra cá. de tempos em tempos, nos encontramos pro exercício de amor que é a nossa convivência; esse é mais um tesouro que me bate à porta de tempos em tempos. poder conviver com eles, com os que moram aqui e com os que por aqui pousam de vez em quando é o que eu mais buscava nessa mudança e, posso dizer, encontrei mais amor neles do que eu julgava haver. sei - sinto - que sou amada.
além de tudo isso, há os pequenos tesouros do dia-a-dia, aqueles que fazem a felicidade de verdade, do tipo que se pode sentir em qualquer canto do mundo e carregar pra todo e qualquer lugar. um sorvete no juarez, receber uma ligação da minha avó pedindo um favor, a flores da Serraninha num fim-de-semana... ontem, voltando da casa da ritinha, depois de algumas horas de carinho sem fim, me senti feliz. eu sabia de onde vinha minha felicidade. sei que ela pode se repetir a qualquer momento. é só esticar a mão, alcançar o telefone, discar uns poucos números. esperar que atendam. e chegar. simples assim - como a vida, como tudo o que pode durar pra sempre.