terça-feira, 22 de dezembro de 2009

resposta do tempo

o tempo passou devagar nesses ultimos dias. o tempo na verdade se arrastou, brincou de esconde-esconde comigo, fez que ia e nao foi. o tempo: ele sabia que eu precisava ir devagar com o andor, ele sabia que eu precisava viver hoje, agora, o momento exato. eu tambem sei disso, mas vivo a me esquecer e, depois de um tempo (olha ele de novo!), acabo agradecida ao tempo.
hoje foi um dia de revelacoes, de encontros, de re-afirmacoes.
me reecontrei com a professora que tenho em mim, ela andava adormecida pelas frustracoes de um semestre dificil, atraves de uma aluna que comecou sem nenhum entusiasmo e terminou virando a melhor aluna da sala. e que escreveu um cartao pra professora, no qual agradecia pela disciplina desafiodora que a ensinou a buscar o melhor. a professora passou o resto do dia a saborear a realizacao: muito melhor que ensinar os aspectos tecnicos da ciencia, eh bom participar da preparacao desses jovens para a vida. eh importante vencer um desafio, pois ele nos ensina que podemos. nao importa qual desafio esteja a frente: buscar o melhor eh o caminho. a aluna pode ateh esquecer o que eh uma comunidade, uma celula, uma abelha, uma mitocondria. mas que ela nunca esqueca que eh capaz de vencer desafios porque busca sempre o melhor. a professora, com certeza, jamais esquecera do brilho daqueles olhos.
eh importante conhecer a tecnica, mas tecnicas soh sao uteis de verdade se somadas a intuicao. a tecnica sozinha nao resolve os desafios do ensinar, porque ensinar nao eh exato - eh humano. e requer que o professor use todas as ferramentas que possui, incluido a intuicao.
o mesmo tempo que brincou comigo ao longo das ultimas duas semanas, hoje passou rapido e sereno. de malas prontas, eu espero soh a hora de ir, que chega jah. e espero feliz, cheia de esperanca: 2010 ha de ser melhor que 2009.
ateh 2010, estou lah. estou com eles. estou inteira.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

urgencia

a vida nos ensinou a urgencia. nem todos a aprendemos ou a adotamos pro dia-a-dia, porque, como todo grupo de seres vivos, somos variaveis ateh na forma como reagimos a vida. mas que a vida jah nos ensinou a urgencia, nao dah pra negar. a vida nos ensinou que somos todos finitos. pra mim, eu ser finita nao eh problema algum, dificil pra mim sao eles serem finitos. a vida nos ensinou que estar juntos de alguma forma alivia a dores que vem junto com aprender a urgencia e a finitude.
talvez por isso que esse ano, depois da gente ter digerido e convivido com a urgencia e a finitude, esteja sendo tao dificil esperar pro dia de nos encontrarmos na terra de iracema. talvez por isso esse tempo que nao passa, essa ansiedade que nao se vai nem no sono. talvez por isso, ontem numa tarde de frio e nuvens da nova inglaterra, eu tenha feito as malas, a despeito do tempo que nao passa, do tempo que ainda falta passar ateh o dia de ir.
parece que a vida nos ensinou a urgencia e a urgencia nos ensinou a ansiedade.
de malas feitas, eu continuo a contar os dias.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

passagem

hoje eh quarta-feira e eu comecei a contar os dias: vou encontrar-me com iracema em quize dias. hoje eh quarta-feira e eu comeco a me preparar pro ritual de passagem, dessa vez mais longo, que se inicia em dezembro e soh deve acabar lah pra maio. hoje eh quarta-feira e eu jah sinto o cheiro da tapioca na chapa, do carangueijo no leite de coco, do filet migon que se faz numa casa ao sul do equador, na cidade do sol e de sao jose, no bairro que leva um nome familiar. escuto o murmurio calmante da fala em portugues, escuto os carros que passam na desembargador moreira ou na antonio salles, abro os olhos e posso ver tres pares de olhos a me fitar, a me chamar pra brincar, pra amar, pra viver. escuto a voz infantil que diz que vai dormir comigo, escuto a mae a protestar - "ela mexe muito durante a noite!" - e me vejo cedendo, pois a tia que eu sou sempre cede pras coisas boas da vida. e tem coisa melhor que um chamego de noite? escuto as conversas todas, regadas a boa companhia: a comadre, a prima, a irma... escuto a conversa que acontece numa casa do papicu, onde ha tambem outras de mim.
conto os dias, saboreio a espera. ateh lah.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

desabafo

to propondo uma emenda a declaracao dos direitos humanos: que todo mundo que eh infeliz, tem problemas serios, estah com infeccao no inconsciente*, sofre de disturbios da saude mental seja obrigado a procurar ajuda. pra melhorar logo e ponto. pra deixar de, voluntaria ou involuntariamente, fazer os outros infelizes. e nao importa se eles vao buscar ajuda d'um psicologo, psiquiatra, psicanalista, pai-de-santo, pastor de igreja evangelica. desde que essas pessoas parem de maltratar o mundo.

felicidade e sanidade mental, quem quer ter, corre atras. do jeito que for. porque a vida eh muito curta.

agora, eu vou dormir. amanha eh outro dia e vai ter sol na nova inglaterra.
boa noite.

* infeccao no incosciente: mais uma expressao do dicionario de marly, utilizada para referir-se a depressao, baixo astral, calundu.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

cumade

a vida eh feita de momentos, alguem vai dizer. faz tempo jah que nao acredito nisso... minha pouca experiencia me diz que a vida eh feita de pessoas; essas, sim, fazem, determinam, moldam como hao de ser os momentos da nossa vida. ao longo da caminhada da vida, vamos acumulando pessoas, que nos propiciam momentos, que partilham momentos, que marcam momentos, que definem momentos. algumas dessas pessoas sao barreiras, marcos de momentos dificeis. outras, em contrapartida, sao presentes, marcos de momentos bons.
essas, as que marcam bons momentos da minha vida, se eternizam. como a minha comadre... como tudo que a gente partilha, como o amor que a gente troca, como o apoio a gente se dah quando tem alguem com a corda no pescoco. de mim, nunca passa despercebido quando ela tira minutos (muitos!!!!) do tempo contado que ela tem pra me dar de presente, pra conversar ao telefone, pra me contar as ultimas do meu afilhado, pra me dizer uma palavra de estimulo. nunca.
alem de comadre e amiga indispensavel, ela eh meu modelo de mae. quando eu for mae, quero ser igual a ela, sem tirar nem por. ontem, a filha mais velha veio ao telefone pra contar pra tia mari sobre o ela mesma chamou de noite mais feliz da vida: uma festa surpresa, com algumas amigas, organizada pela mae atenta e cuidadosa, que ouviu um desejo da filha. um desejo bobo, que a muitos passaria batido. mas que a comadre sabe ouvir como ninguem. nao, nao eh fazer vontade - eh parar pra ouvir, eh ver o filho como ele eh, nao como se imagina. eh perceber que o filho pode, sim, ser diferente de si, e que isso nao lhe faz ser menos.
elas dormiram felizes, numa noite que uma crianca se sentiu amada e uma mae viu o sorriso mais feliz desse mundo iluminar um bairro inteiro de uma cidade no nordeste do brasil.

domingo, 29 de novembro de 2009

novembro

novembro, pra mim, foi mes de falar pouco. novembro foi o mes de escutar, nao o que me diziam as pessoas ao meu redor. foi o mes de escutar o que me diz o universo, em constante mutacao e conspiracao - a favor, assim eu acho. novembro foi o mes de ter certeza, de perceber os sinais, de encontrar as respostas nos acontecimentos mais causais, sem qualquer ligacao aparente com o acontece de fato na minha vida.
pela primeira vez, em seis anos de eua, por pouco nao tive programa pro thanksgiving, feriado em que as familias se encontram. nao foi por acaso, nao pode ser. pela primeira vez, desde que comecei a falar em voltar, alguem me fez uma proposta concreta de trabalho. e uma outra possibilidade comecou a tomar forma, ainda muito incipiente, mas jah com alguma forma. nao foi por acaso, nao pode ser.
passei mais um feriado prolongado sozinha em casa. o telefone nao tocou, a nao ser pelos de sempre, aqueles que estao sempre presentes. mas jah aprendi a lidar com a situacao. e sou eternamente grata pela existencia dos bons livros, do cinema e da musica, que ocupam o tempo e os espacos vazios. sei, e sinto, que nao estou soh.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

pra encontrar iracema

ela me espera. ainda virgem, mel nos labios, cor na pele. ela se banha nas aguas calidas daquele mar verde, brinca de subir e descer com as ondas da praia do futuro. ela me espera enquanto eu ainda sinto frio e vejo o mundo seguir em frente todo dia.
daqui a um mes, a encontro (quase) como a deixei no comeco de junho, depois dos dois aniversarios mais felizes de 2009. um celebrado numa fazenda do sertao, regado a amor, cerveja e musica. o outro celebrado no asfalto da cidade, regado a amor e cerveja.
ela vai me ofercer carangueijos, peixes, filet da vovo. ela vai me oferecer o mar verde. ela vai me permitir ver o caminho, que jah estah tracado, embora longe do meu alcance. ela vai me oferecer o circulo, dentro do qual em tenho a nocao mais completa do que eh pertencer.
a cidade dela eh feia e bonita. me recebe de bracos abertos, me faz ter vontade de ficar. mas tambem me mostra a cara feia, os dentes expostos de raiva, de tristeza, de frustracao, de medo. a cidade eh muita gente.
temos um encontro marcado, eu e iracema. e falta soh um mes.