quinta-feira, 24 de novembro de 2011

sim, recomecei a inventar projetos, sonhos, estórias que ainda não conseguiram sair da minha cabeça. em breve: tomara - por aqui.

domingo, 13 de novembro de 2011

fazia muito já que eu não tinha um sábado que se pudesse chamar sábado, uma sexta-feira decente o suficiente pra ser preenchida por algo a mais que o alívio do dia em que acaba o trabalho e começa o descanso. faz tempo que tenho todo o tempo do mundo pra descansar e quase nenhum pra me cansar com coisas mundanas, carnais, com pecados capitais de todos os tipos.
fazia muito que eu não procurava, feliz, um momento em que pudesse ficar só pra fazer coisas de mulherzinha ouvindo belchior e fagner, de touca na cabeça, o cabelo cheio de creme, uma máscara de pepino no rosto. faz muito que eu não ficava tranquila em dizer não pra uma das minhas crianças, que queria passar o fim-de-semana prolongado comigo.
tem sido bom não poder estar presente, tenho curtido cada momento de indisponibilidade que me cai no colo. e não, não vai ser assim o tempo todo, porque à medida em que a vida caminha, também as coisas, os sentimentos, as histórias se encaminham pr'um lugar de mais equilíbrio, de mais tranquilidade. por enquanto, todavia, me apetecem muito a pressa, a sexta-feira concorrida, as ligações não atendidas no celular, os emails a responder.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

a resposta que nunca vou dar

pois é. completo hoje, dia 15 de setembro de 2011, 14 meses de retorno ao brasil. muito, muito bom estar perto da família, estabelecer rotinas de convivência, fazer parte, ajudar, ser ajudada. muito bom o abraço sem pressa, o beijo repetido, os gestos que, por serem possíveis de forma regular, vão se internalizando, são realizados quase tão naturalmente quanto respirar. não vou dizer que fortaleza seja uma cidade ruim, ando evitando juízos de valor e dizer que fortaleza é ruim e atribuir um valor que eu não quero a essa cidade que é minha, apesar de me fazer sentir infinitamente estrangeira. fortaleza, entretanto, não tem sido uma experiência prazeirosa para mim. um ano e dois meses depois, minha relação com a cidade ainda é marcada por uma certa irritação, pela sensação de que eu não compreendo a cidade. e, sobretudo, pela sensação de uma grande ausência de pertença. não me sinto parte desse lugar, como já me senti parte de outros lugares onde morei. antes, pertenço aos meus e isso, esse sentimento de pertencer a eles subverte a geografia e é possível onde quer que estejamos, qualquer lugar que permita o encontro.
no começo, logo que cheguei, apesar de todas as dificuldades, eu sentia que valia a pena estar aqui, que chegaria o dia em que tudo voltaria ao eixo. eu teria uma trabalho que, de qualquer forma que fosse, me satisfizesse, teria uma história com a cidade, amigos, e assim um lugar que me coubesse por estas bandas. explorei algumas possibilidades, fiz o que eu pude. mas não, não passei mesmo por cima dos meus princípios e valores, algo muito importante pra mim. não fiz nada que eu achasse desonesto ou que me constrangesse. sei que não fiz o suficiente pra me estabelecer por aqui - sei disso melhor que ninguém. mas sei também que fiz o que pude e isso me basta, mesmo que não baste aos outros. ao longo desses 14 meses, fui me cansando, minha confiança foi murchando, minha energia foi se exaurindo e, à medida em que mais portas foram se fechando, fui vendo minha gama de possibilidades reduzir-se quase a zero.
tenho sido, mesmo que veladamente, acusada de não ter tentado o suficiente. de não ter feito absolutamente tudo o que podia ser feito. sei que quem diz isso sente, assim como eu, uma certa frustração. sei que quem diz isso o faz por amor. mas só eu sei onde o calo me dói, qualquer que seja o acontecimento em minha vida, sou eu que arco com as consequências. só eu sei como eu durmo e acordo, só eu sei o gosto do que saboreei por aqui. só eu. só eu sei o quanto me custaria usar de determinados recursos pra fazer as coisas aqui caminharem de maneira diferente. então, só eu posso decidir o que vou fazer. ou não, como diria o caetano.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

setembro

para mim e para os meus, setembro reinaugura saudades. elas completam anos, renovam ciclos e, num eterno modificar-se, perduram em cada um de nós. em uns, é maior, mais intensa, mais latejante. em outros, é menor, menos diária. mas é igualmente saudade em todos nós, porque sabemos que nunca mais seremos nós completos.
lembrei-em hoje, num banho de mar de homenagem à saudade, que mia couto um dia escreveu:
"Cruzo o rio, é já quase noite. Vejo este poente como o desbotar do último sol. A voz antiga do Avô parece dizer-me: depois deste poente não haverá mais dia. E o gesto gasto de Mariano aponta o horizonte: ali onde se afunda o astro é o mpela djambo, o umbigo celeste. A cicatriz tão londe de uma ferida tão dentro: a ausente permanência de quem morreu. No Avô Mariano confirmo: morto amado nunca mais pára de morrer."
Mia Couto em Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

agosto chegou aqui na cidade que se diz forte. trouxe consigo o vento que eu não conhecia, que uiva nas minhas janelas, que carrega a maresia grudenta que meus pés acabam de espalhar por aí. trouxe também uma melancolia dura, às vezes amarga, às vezes infinita.
dei de ler adélia prado, ouvir músicas tristes.

Estreito
Agosto, agosto
os torrões estão leves,
ao menor toque se desmancham em pó.
Estrela de agosto,
baça.
Céu que se adensa,
vento.
Papéis no redemoinho levantados,
esta sede excessiva
e ciscos.
Um homem cava um fosso no quintal,
uma idéia má estremece as paredes.
Adélia Prado

domingo, 21 de agosto de 2011

eu achava que era só no norte. meu outro norte, o inventado. eu achava que era a geografia o problema e, portanto, fácil de resolver. não, eu não era mais só no outro norte que eu sou aqui, no meu norte de direito. depois de um ano aqui nessas paragens onde não caibo, posso dizer: sei o que é solidão.

"De vez em quando Deus me tira a poesia
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
O mundo, cheio de departamentos,
não é a bola bonita caminhando solta no espaço.
Eu fico feia, olhando espelhos com provocação,
batendo a escova com força no cabelos,
sujeita a presságios.
Viro péssima cristã."

Adélia Prado (trecho do poema Paixão)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

novos ventos

fortaleza não é o pior lugar do mundo, muito menos é uma cidade ruim de se viver. é, simplesmente, um lugar onde não me sinto completamente em casa, onde eu não me encaixo perfeitamente. apesar de ser o lugar de diversas das minhas memórias afetivas, sobretudo aquelas ligadas à família. talvez por isso, passar uns dias fora de fortaleza me fez um bem grande. foi importante, naquele momento, experimentar um pouco do brasil que não é fortaleza, não é ceará. que ainda tem diversos dos problemas e questões que me afligem aqui, mas que também conta diferenças acalentadoras. observar um pouco do brasil fora daqui me fez voltar com uma sensação boa de que há pra onde fugir na hora em que eu estiver pronta. agora, ainda não é a hora.
voltei com uma sensação muito forte de que, em algum momento, quando eu menos esperar, um caminho se apresentará e eu só precisarei segui-lo. esse é um tema recorrente em minha vida: lutar, batalhar, ir atrás com todas as forças de algo que não aparece, que não acontece, que não se materializa. e, assim como num passe de mágica, no momento em que eu relaxo, em que a tranquilidade finalmente chega a mim, algo que eu nem ousei desejar de tão bom aparece, se concretiza, materializa e eu ganho um caminho a seguir. (porque eu gosto de seguir na vida por caminhos.) tenho aprendido a ouvir minha voz interna, seguir minhas intuições. entrego-me então a essa intuição de que tudo vai se resolver, que o caminho vai aparecer e que tudo volta pro eixo em algum momento, mais cedo ou mais tarde.
enquanto isso, saboreio a vida perto do mar, do vento do mar, da maresia que gruda no chão de casa, nas roupas secando no varal, em cima da geladeira. aproveito o sol do trópico em banhos de mar matinais e a brisa fresca em caminhadas noturnas. voltei a cozinhar - pra mim e pros meus. e isso só pode ser sinal de que bons, novos ventos soprarão por aqui.